Entendendo algumas instruções do Assembly x86
Até agora já foram explicados alguns dos conceitos principais da linguagem Assembly da arquitetura x86, agora que já entendemos como a base funciona precisamos nos munir de algumas instruções para poder fazer códigos mais complexos. Pensando nisso vou listar aqui algumas instruções e uma explicação bem básica de como utilizá-las.
Já expliquei a sintaxe de uma instrução no NASM mas não expliquei o formato em si da instrução no código de máquina. Para simplificar uma instrução pode ter os seguintes operandos:
Um operando registrador
Um operando registrador OU operando na memória
Um operando imediato, que é um valor numérico que faz parte da instrução.
Basicamente são três tipos de operandos: Um registrador, valor na memória e um valor imediato. Um exemplo de cada um para ilustrar sendo mostrado como o segundo operando de MOV:
Como demonstrado na linha 4 strings podem ser passadas como um operando imediato. O assembler irá converter a string em sua respectiva representação em bytes, só que é necessário ter atenção em relação ao tamanho da string que não pode ser maior do que o operando destino.
São três operandos diferentes e cada um deles é opcional, isto é, pode ou não ser utilizado pela instrução (opcional para a instrução e não para nós).
Repare que somente um dos operandos pode ser um valor na memória ou registrador, enquanto o outro é especificamente um registrador. É devido a isso que há a limitação de haver apenas um operando na memória, enquanto que o uso de dois operandos registradores é permitido.
Irei utilizar uma explicação simplificada aqui que irá deixar muita informação importante de fora.
As seguintes nomenclaturas serão utilizadas:
Nomenclatura
Significado
reg
Um operando registrador
r/m
Um operando registrador ou na memória
imm
Um operando imediato
addr
Denota um endereço, geralmente se usa um rótulo. Na prática é um valor imediato assim como o operando imediato.
Em alguns casos eu posso colocar um número junto a essa nomenclatura para especificar o tamanho do operando em bits. Por exemplo r/m16
indica um operando registrador/memória de 16 bits.
Em cada instrução irei apresentar a notação demonstrando cada combinação diferente de operandos que é possível utilizar. Lembrando que o operando destino é o mais à esquerda, enquanto que o operando fonte é o operando mais à direita.
Cada nome de instrução em Assembly é um mnemônico, que é basicamente uma abreviatura feita para fácil memorização. Pensando nisso leia cada instrução com seu nome extenso equivalente para lembrar o que ela faz. No título de cada instrução irei deixar após um "|" o nome extenso da instrução para facilitar nessa tarefa.
Copia o valor do operando fonte para o operando destino.
Soma o valor do operando destino com o valor do operando fonte, armazenando o resultado no próprio operando destino.
Subtrai o valor do operando destino com o valor do operando fonte.
Incrementa o valor do operando destino em 1.
Decrementa o valor do operando destino em 1.
Multiplica uma parte do mapeamento de RAX pelo operando fonte passado. Com base no tamanho do operando uma parte diferente de RAX será multiplicada e o resultado armazenado em um registrador diferente.
Operando 1
Operando 2
Destino
AL
r/m8
AX
AX
r/m16
DX:AX
EAX
r/m32
EDX:EAX
RAX
r/m64
RDX:RAX
No caso por exemplo de DX:AX, os registradores de 16 bits são usados em conjunto para representar um valor de 32 bits. Onde DX armazena os 2 bytes mais significativos do valor e AX os 2 bytes menos significativos.
Seguindo uma premissa inversa de MUL, essa instrução faz a divisão de um valor pelo operando fonte passado e armazena o quociente e a sobra dessa divisão.
Operando 1
Operando 2
Destino quociente
Destino sobra
AX
r/m8
AL
AH
DX:AX
r/m16
AX
DX
EDX:EAX
r/m32
EAX
EDX
RDX:RAX
r/m64
RAX
RDX
Calcula o endereço efetivo do operando fonte e armazena o resultado do cálculo no registrador destino. Ou seja, ao invés de ler o valor no endereço do operando na memória o próprio endereço resultante do cálculo de endereço será armazenado no registrador. Exemplo:
Faz uma operação E bit a bit nos operandos e armazena o resultado no operando destino.
Faz uma operação OU bit a bit nos operandos e armazena o resultado no operando destino.
Faz uma operação OU Exclusivo bit a bit nos operandos e armazena o resultado no operando destino.
O operando 2 recebe o valor do operando 1 e o operando 1 recebe o valor anterior do operando 2. Fazendo assim uma troca nos valores dos dois operandos. Repare que diferente das instruções anteriores essa modifica também o valor do segundo operando.
O operando 2 recebe o valor do operando 1 e, em seguida, o operando 1 é somado com o valor anterior do operando 2. Basicamente preserva o valor anterior do operando 1 no operando 2 ao mesmo tempo que faz um ADD nele.
Essa instrução é equivalente a seguinte sequência de instruções:
Faz o deslocamento de bits do operando destino para a esquerda com base no número especificado no operando fonte. Se o operando fonte não é especificado então faz o shift left apenas 1 vez.
Mesmo caso que SHL porém faz o deslocamento de bits para a direita.
Compara o valor dos dois operandos e define RFLAGS de acordo.
Define o valor do operando de 8 bits para 1 ou 0 dependendo se a condição for atendida (1) ou não (0). Assim como no caso dos jumps condicionais, o 'cc' aqui denota uma sigla para uma condição. Cuja a condição pode ser uma das mesmas utilizadas nos jumps. Exemplo:
Basicamente uma instrução MOV condicional. Só irá definir o valor do operando destino caso a condição seja atendida.
Inverte o sinal do valor numérico do operando.
Faz uma operação NÃO bit a bit no operando.
Copia um valor do tamanho de um byte, word, double word ou quad word a partir do endereço apontado por RSI (Source Index) para o endereço apontado por RDI (Destiny Index). Depois disso incrementa o valor dos dois registradores com o tamanho em bytes do dado que foi movido.
Compara os valores na memória apontados por RDI e RSI, depois incrementa os registradores com o tamanho em bytes do dado.
Copia o valor na memória apontado por RSI para uma parte do mapeamento de RAX equivalente ao tamanho do dado, e depois incrementa RSI com o tamanho do valor.
Compara o valor em uma parte mapeada de RAX com o valor na memória apontado por RDI e depois incrementa RDI de acordo.
Copia o valor de uma parte mapeada de RAX e armazena na memória apontada por RDI, depois incrementa RDI de acordo.
Essas instruções são utilizadas para gerar procedimentos de laço (loop) usando o registrador RCX como contador. Elas primeiro decrementam o valor de RCX e comparam o mesmo com o valor zero. Se RCX for diferente de zero a instrução faz um salto para o endereço passado como operando, senão o fluxo de código continua normalmente.
No caso de loope
e loopne
os sufixos indicam a condição de igual e não igual respectivamente. Ou seja, além da comparação do valor de RCX elas também verificam o valor de RFLAGS como uma condição extra.
Não faz nenhuma operação... Sério, não faz nada. Essa instrução normalmente é utilizada apenas como um "preenchimento" por compiladores afim de alinhar o endereço de código por motivos de otimização.
Não cabe a esse livro explicar porque esse alinhamento melhora a performance do código mas se estiver curioso estude à respeito do cache do processador e cache line. Para simplificar um desvio de código para um endereço que esteja próximo ao início de uma linha de cache é mais performático.
Se você for um escovador de bits sugiro ler à respeito no manual de otimização da Intel no tópico 3.4.1.4 Code Alignment.